Archive for the ‘Ciência e tecnologia’ Category

Sobre o invisível

05/03/2013

O invisível

Está em todos os lugares, o invisível.

Nas paredes e no teto. Nas ruas.

As portas se abrem quando eu me aproximo.

A música ambiente muda.

Vejo anúncios produzidos apenas pra mim.

Roupas e sapatos feitos somente para meu corpo.

O invisível organiza sozinho o trânsito.

Não há mais semáforos e buzinas.

Só pedestres e carros sem motorista.

O invisível também está em casa.

No chão, atrás do espelho. Na pia.

Eu digo ao invisível: “menos luz” ou “mais luz”.

Digo: “menos frio” ou “mais frio”.

O invisível ajusta a luz e a temperatura.

É incansável até quando eu respiro.

Analisa as moléculas que exalo. Detesta doenças.

O invisível está em minha corrente sangüínea.

Misturado com os invisíveis naturais de meu corpo.

Consertando as células defeituosas.

Está também em meu cérebro.

Recebendo mensagens.

Enviando mensagens a outras mentes.

O invisível às vezes fala comigo.

Avisa que selecionou na brain-net alguém compatível.

Pergunta se eu gostaria de marcar um encontro.

A única profissão honesta

30/09/2011

De que fala a boa ficção, qual é o seu assunto predileto? Depois de assistir a essa apresentação do mágico Marco Tempest, eu concluí que os bons romances e os bons contos, igual à mágica, falam principalmente do engano, da decepção. No começo de uma história para jovens ou adultos, de qualquer história, algo terrível acontece. Os personagens são lançados no abismo do engano, da decepção, e a grande aventura, para os heróis literários e também para o leitor, será escapar desse abismo. Uns morrerão tentando. Outros conseguirão escapar, mas somente depois das piores provações, dos piores horrores. Aí está a beleza da boa ficção. O leitor acompanha essa aventura perplexo, comovido. Ele torce pelo herói, sente sua dor, seu cansaço, como se a aventura estivesse ocorrendo diante de seus olhos. Durante a leitura, a fantasia vira realidade. É o triunfo do ilusionismo ficcional. Nesse ponto, o escritor e o mágico são iguais. O mágico Karl Germain (está no vídeo) dizia que a mágica é a única profissão honesta. “A promessa de um mágico é enganar você, e é o que ele faz.” Mas… A única profissão honesta? De jeito nenhum. Podemos afirmar o mesmo da literatura, não?

Um pouco pra trás, um pouco pra frente

02/05/2011

Como era o mundo duzentos anos atrás? Muito diferente do que é hoje. Um bom exercício de imaginação é pensar como as pessoas do começo do século 19 receberiam – de um viajante do futuro, talvez – a notícia de que em breve não haveria mais escravidão nem colônias. Duzentos anos atrás não havia, por exemplo, a fotografia, a anestesia geral, o telefone, a lâmpada incandescente, o automóvel, o plástico, o rádio, o cinema, o avião, a televisão e o antibiótico. Cem anos atrás até mesmo as pessoas mais esclarecidas não sabiam que as doenças infecciosas são provocadas por micróbios. Também não sabiam da existência de outras galáxias: para as pessoas dessa época a Via Láctea era todo o universo. Agora, olhando um pouco pra frente, o que dá pra ver?