Professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, falecido em 2008, Haquira Osakabe foi uma pessoa extraordinária. Um intelectual insubstituível. Não, eu não o conheci. Nem sabia de sua existência, antes de receber os dois livros que acabam de ser lançados pela editora Iluminuras. Osakabe era do tipo extraordinário, insubstituível e principalmente circunspecto, avesso à exposição pública. “Calmo como um buda mas intenso como um samurai”, “um homem arisco, um pouco enigmático”, assim o definiram.
Quem não teve a sorte de conhecê-lo pessoalmente terá que se satisfazer com seus escritos analíticos.
Fernando Pessoa: resposta à decadência é um ensaio meticuloso, que apresenta a vasta obra de Pessoa e seus heterônimos como uma reação purificadora, contra o declínio da civilização europeia do final do século 19. Reação titânica, regeneradora do mundo, dividida em dois momentos radicais: primeiro, “a missão de fazer nascer no homem o seu deus-natureza e, com ele, a Criança Divina”; em seguida, a missão de regenerar simbolicamente “a figura também pura do Rei-Menino, Dom Sebastião”.
Mais didático e transparente que o estudo anterior, Fernando Pessoa: entre almas e estrelas nasceu de uma solicitação editorial. Osakabe foi convidado pelo editor da Publifolha a sintetizar a vida e a obra do poeta de muitas faces, para a coleção Folha Explica. Mas Osakabe faleceu, sem que tivesse anunciado a ninguém a conclusão do trabalho. Quem recentemente localizou o texto entre seus arquivos foram suas irmãs.
Completam o livro 50 depoimentos sobre Haquira, enfáticos e carinhosos, de colegas e ex-alunos. Depoimentos que acendem no leitor a vontade – agora impossível – de conhecer pessoalmente esse samurai arisco e enigmático, que não está mais entre nós.
[ Publicado originalmente no Guia da Folha de julho de 2013 ]